Em tempo...

Me parece que a maior crise da atualidade é a escassez de tempo! O tempo está minguando... Mas onde foi parar afinal? Está escondido no trânsito? Na má organização pessoal? Ou disfarçando a preguiça? Seja como for, eu também sofro deste mal - agravado pelos multiplos papéis que desempenho - tenho visto os anos passarem sem que o desejado 'tempo' fique mais disponível! Este blog é um desafio pessoal, pretendo imprimi-lo para compartilhar com minha filha qdo esta crescer - espero q ela tenha mais habilidade que eu para gerenciar sua vida profissional, academica e as demandas dos meus netinhos :D


sábado, 21 de julho de 2012

As crianças de chocolate…

Qdo ainda era muito pqna me lembro da minha pacotinha perguntar pq as pessoas eram de cores diferentes, ela nem sabia expressar direito ainda mas lembro de questionar isso qdo falava de uma tia da escola, q era uma mulata alta.

Para explicar pra uma criança de na epoca menos de 3 anos estas diferenças, contei q as pessoas tinham cores diferentes…tinha gente cor de bananinha como a gente, tinha gente cor de chocolate como a tia da escolinha, também tinha gente q era meio amarelinho como abacaxi e com olhinhos puxados, tinha gente q era branquinho igual a neve, etc…

Lembro q daí em diante durante um tempo ela se admirava ao ver pessoas com cores diferentes e sempre ‘apontava’ as diferenças como quem faz uma observaçao qualquer, do tipo, olha mamae aquela arvore com flores roxas. A criança nao percebe as sutilezas que a convivencia social exige, daí nos coloca em situaçoes embaraçosas com frequencia.

Uma vez estavamos na policia federal para tirar o passaporte dela, entao com 3 anos, qdo ela olha pro lado e havia sentada bem proxima a gente uma senhora muito gorda. O local é silencioso e amplo…a gatinha fez seu habitual comentário….’olha mamaeeeeeeeeeeeeeeeeeeee parece que tem uma melancia na barriga daquela mulher, é um nene???’….bem, naquela altura da vida podia ser um ‘mioma’ mas nunca um nenem…eu queria q o chao abrisse embaixo pra eu me enfiar enquanto a senhora olhava com cara feia pra gente. Me limitei a falar ‘depois te explico’ bem baixinho e rezar pra sair logo de lá.

Enfim, novamente as explicaçoes do tipo ‘nao podemos fazer comentarios sobre o corpo ou cor das pessoas, elas podem ficar tristes’…e ouvia perguntas do tipo ‘mas porque mamae? ela era gorda!’…a lógica infantil faz todo sentido…afinal, pq alguem vai ficar triste se eu disser que o sol é quente? Mas devagar ela foi aceitando o fato de que poderia referir-se a alguem ‘gordo’ como ‘aquela tia fofinha’ assim como fazia com as pessoas ‘cor de chocolate, bananinha, abacaxi’….mas q preferencialmente guardasse seus comentarios pra si mesma ou pra qdo estivessemos sozinhas.

O tempo passou e a curiosidade natural sobre as diferenças das raças diminuiu, hj estas observaçoes sao feitas meramente pra referenciar personagens numa conversa.

Ao mesmo tempo, as duvidas se tornaram mais ‘elaboradas’…daí que ontem ao passarmos novamente na avenida que segue da nossa casa para a escola, e onde existem ainda algumas casas pobres e pedintes, ela me pergunta:

- mamae, pq todas as crianças pobres sao de chocolate?
!!!!!!!!
bem…como explicar uma herança da escravidao e seu impacto nas diferenças sociais pra uma criança de menos de 5 anos? foi complicado…primeiro tentei argumentar:
- nem sempre sao de chocolate…tem muita criança de cor de bananinha q tb é pobre.
Mas ela protestou:
- mas toda vez q eu vejo as crianças de ‘pé sem sapato’ aqui elas sao de chocolate.
Eu tenho q admitir q meus olhos se encheram de lagrimas e foi dificil nao demonstrar pra ela q eu estava triste pela astucia dela em tao cedo constatar esta realidade, e ao mesmo tempo de realmente vivermos esta realidade.

Eu tentei contar um pouco da historia do Brasil, mas percebi q nao ia dar certo. Ai disse simplesmente:
crianças chocolate- é verdade…a maioria das crianças pobres aqui sao de chocolate, mas se vc reparar, qdo a gente vai aos orfanatos vc ve que tem crianças de todas as cores. Vc vai ver mais crianças de chocolate pobres pq tem mais pais e maes tb de chocolate q nao tiveram chance de estudar, e sem estudar, a gente nao consegue um bom trabalho e nao consegue dinheiro pra comprar as coisas pros nossos filhos tb…mas o q importa é q a gente q estudou e tem algum dinheiro tem q agradecer o papai do céu por isso e tentar ajudar aos que nao tem, como qdo vc separa seus brinquedos q ainda estao bons pra gente dar pra crianças q nao tem nenhum brinquedo.

A noite qdo fomos dormir ela fez sua habitual ‘rezinha’ de criança…q dizia ‘papai do ceu, abençoa a mocinha (ela), o papai e a mamae e todo mundo’ e completou ‘e tb as crianças q sao pobres q moram no orfanato, que elas possam ter uma mamae, uma familia’…

Mais q me emocionar, rezo a Deus pra q toda esta nova geraçao de crianças especiais e sensiveis, possam realmente fazer a diferença neste mundo onde o chocolate nem sempre é doce e suave para todos…