Nao, eu nao sou uma profunda conhecedora da cultura oriental…adoro comida japonesa, sei fazer um ou dois tipos de origamis, tenho um sofazinho do tipo futon e alguns queridos colegas de trabalho que moram em Tokyo. That’s all!
Mas nao é preciso ser expert na cultura japonesa para comparar as gritantes diferenças no comportamento deste povo diante de uma tragédia com o comportamento que nós, brasileiros - ou talvez nós, povos latinos – adotamos em situaçoes de emergencia.
A primeira coisa q me chama a atençao junto a organizaçao, é a resignaçao. Sexta a noite, uma reporter da GloboNews perguntou para um informante do local se, apesar da conhecida organizaçao japonesa diante das tragédias, ele estaria presenciando cenas de saques em estabelecimentos comerciais.
Eu nem precisava ouvir a resposta para ter certeza de que ela seria aquela: nao, nao haviam saques – e, nao apenas nao haviam saques como, nos poucos estabelecimentos comerciais que restavam abertos, haviam filas organizadas espontaneamente pela populacao – onde as pessoas aguardavam pacientemente sua vez chegar e ainda, em muitos serviços – cedendo a preferencia aos mais idosos. Apesar da resposta nao me surpreender, eu me peguei sem palavras para descrever minha admiraçao diante deste comportamento. O que a educaçao nao é capaz de fazer por toda uma sociedade!!!
Bem, alem de impressionar o resto do mundo, a educaçao tambem salva vidas…pois se estamos estarrecidos com os estragos, o n. de mortes poderia ser incalculavel nao fosse o preparo de geraçoes para lidar com situaçoes do tipo.
Esta educacao vai obviamente muito além do preparo para lidar com castastrofes naturais. O povo japones é disciplinado, regrado e consequentemente organizado de forma geral. Recentemente o reporter da Globo, Roberto Kovalic, comentou o comportamento das pessoas no Japão diante do desastre, mencionando que os japoneses ainda se preocupam em reciclar lixo no meio de uma tragédia dessas.
Fiquei divagando…será q um dia este povo tao ‘evoluido’ neste aspecto, já foi um pouco ‘brasileiro’? Dizem que os povos q viveram grandes guerras acabam por desenvolver uma capacidade de superaçao e uniao que outros mais afortunados, q nunca viveram este drama, desconhecem. Nao sei se existem dados cientificos a respeito…mas concordo com aqueles q ressaltam nao existir mendigos judeus ou japoneses…a sociedade cuida de dos ‘seus’ – acolhe, prepara e repassa valores e conceitos de forma incontestavel.
Eu tenho certeza de que existem diversos aspectos negativos na cultura japonesa– assim como diversos positivos na nossa cultura…mas o q me intrigou foi sim, o controle emocional que eles tem demonstrado nas cenas que percorrem o mundo nestes ultimos dias.
Eu assisti diversos videos com imagens aterrorizantes, assim como a maioria das pessoas, fiquei chocada ao ver que as casas, carros, barcos, tudo…parecia tornar-se de papel diante da violencia das aguas invandindo as ruas. Em alguns momentos me perguntei, pq é q este cara tá filmando isso em vez de sair correndo???
A verdade é q na ‘trilha de fundo’ de todos os videos q vi, qdo nao havia uma sirene com msgs repetidas (provavelmente alarmes para evacuaçao? imagino, pois meu japones termina no sushi, sashimi, arigatô!) – as vezes havia a voz de um apresentador…mas alem do som das ondas, vidros se quebrando, carros batendo um nos outros…nao se ouvia um unico grito de desespero, nem um choro incontrolavel, nao se ouvia nenhum tipo de demonstracao de desespero ou emocoes descontroladas. Mesmo qdo apareciam imagens de pessoas proximas a cena, ou pessoas emocionadas vendo listas de sobreviventes ou destroços de casas…o choro parecia contido, nao havia escandalo.
Enquanto alguns poderiam julgar os japoneses como um povo ‘frio’, pra mim fica a imagem de q apenas usamos nossa energia de formas diferentes em situacoes dramaticas. Me parece q toda a energia q nos dispensamos em expressar nossos sentimentos de desespero, de horror e de revolta diante de situacoes semelhantes (como as recentes tragedias causadas pelas chuvas no Rio de Janeiro e no país em geral) – enfim, esta mesma energia q empregamos no comportamento passional e barulhento q nós latinos tendemos a reproduzir em situacoes como estas, parece estar prontamente mobilizada pelos japoneses na recuperacao. Nao se lamenta o q já ocorreu…eles já nao estao mais apenas contemplando (literalmente) o estrago, mas olhando pra frente em busca do que fazer para remediar o desastre, com as mangas arregaçadas empenhados na limpeza e na reconstruçao da vida que agora está transformada em entulho.
Ao conversar com uma amiga de lá logo no primeiro dia, qdo buscava informacoes a respeito de sua seguranca, ela me disse que estava bem, q nunca havia visto nada igual em toda sua vida, q foi assustador, mas q estavam todos bem. Dois dias depois ‘dizia-se feliz’ pois a energia havia sido restabelecida e a familia dela – q mora em outra cidade – poderia entao, voltar a dormir com o aquecimento ligado. Nas suas falas nao houve uma unica reclamacao, nao houve nenhum comentario de revolta, nenhuma queixa. Desejar que eles sejam fortes é desnecessário…nao temos conselhos para dar e neste momento, nem me parece q estamos gabaritados para tanto.
Acho q diante desta tragedia terrivel, fica sim uma liçao a todos nós aqui e pelo mundo afora, uma oportunidade de aprendizado ímpar na simples observacao do comportamento deste povo – como crianças que observam alguem ‘sábio e maduro’ em plena ação.
Sayonara!