Eu estava voltando pra casa, depois de mais um dia corrido de trabalho entre
planilhas, reunioes e scorecards de fim de quarter, qdo resolvi parar na
farmarcia que ficava no caminho - apenas pq havia uma banca de jornais em frente
a ela e teria entao a oportunidade de – após comprar xampu para justificar o
tempo no estacionamento – dar uma espiada pra ver se haviam chegados os benditos
gogo’s q minha filha esta colecionando. Faz dias que estamos atras deles,
peregrinando de banca em banca após a saida de escola, e os pacotinhos estao em
falta. Como ela ganhou um dinheiro de presente de aniversário da avó, e eu havia
prometido me empenhar na busca deles, e lá estava eu, incansavel na minha meta
mais dificil do dia.
Bem, eu nao achei os gogo’s lá…mas embora nao procurasse, achei algo
diferente – um momento de reflexao na mais inesperada das situaçoes. Eu sai da
farmacia carregando minha sacolinha com xampu especial para cabelos quimicamente
tratados, equilibrando celular e a chave do carro na outra mao, me escondi atras
do oculos de sol enquanto o calor de 38 graus continuava castigando Sao Paulo
desde os ultimos dias de inverno, e sem muito prestar atençao a volta, parei em
frente a banca – nao vi direito quem estava sentado atras do vidro/balcao e
soltei um rápido:
- BOA TARDE!?! Chegaram os pacotinhos de gogo’s? Minha filha continua
ansiosa e…
Saiu de lá do fundo um homem de meia idade, com cabelos grisalhos saltando por debaixo
do boné, camisa polo azul meio desbotada, com aparencia simples e serena - serenidade que contradizia a condiçao do momento: o calor e a poluiçao da avenida - que foi
respondendo calmamente diante da minha pressa:
- Puxa, nao chegaram…sabe eu já fiz o pedido, mas…
- Sabe quando eles chegam? – perguntei meio aflita e decepcionada, ja
antencipando a carinha de frustraçao da minha pequena.
- Olha…como é seu nome mesmo?
- Marissol – respondi, já imaginando algo como ‘me deixa o telefone que ligo
avisando’…quando ouço:
- Entao Marissol, posso deixar um pensamento de luz para sua vida?
Eu parei…arregalei os olhos atras do óculos, meio que ri diante da situaçao e
disse: – Ah, claro, muito obrigada! – e já ia saindo pensando ‘puxa, que jeito
curioso de se desculpar pela falta de um produto…mandando ‘pensamento de luz’
pro fregues’ rsrsrs. Mas qdo ia me retirando ao imaginar que o ‘pensamento de
luz’ fosse realmente apenas um pensamento intimo dele, um modo de dizer ‘tchau,
tudo de bom viu!’, ele continuou, ou melhor dizendo - começou:
- Entao ouça, Marissol: …..
E passou a falar…a falar e falar…falar…de forma pausada, algumas coisas
pareciam meio que quase rimando, mas nao me pareciam decoradas, elas fluiam como
um discurso meio improvisado, eu nao consigo lembrar da ordem das palavras mas
era algo como – que sua vida seja sempre cheia de luz, amor e respeito daqueles
q vivem ao seu redor, que vc possa sempre levar sua missao ate o fim, sua missao
de melhorar a si mesmo e as coisas a sua volta, que vc compreenda a grandeza do
amor q vc carrega e que vc possa iluminar tudo ao seu redor, que sua vida seja
longa e prospera, que a saude do seu corpo permita seu espirito seguir adiante
com seus designios e por ai foi…só me lembro do final meio rimado que dizia algo
assim ‘Marissol (alias ele repetia meu nome entre uma frase e outra), por tras
dos seus olhos de mulher refinada (ou sofisticada, nao sei, sei q era quase
isso), existe um coraçao iluminado – (e deu uma pausa pra concluir)- que deixou
este cowboy encantado’ – rsrsrsrsrs esta foi a parte meio engraçada e
provavelmente, menos elaborada da mensagem.
Eu sorri e agradeci, terminei dizendo ‘muito bonita a mensagem, obrigada, boa
tarde’ e sai…fiquei meio atordoada, rindo talvez diante da perperxlidade por nao
entender o que havia acontecido. As palavras bonitas chegaram em dado momento a
me emocionar, ao mesmo tempo q uma ponta de duvida lá no fundo ficava me
instigando a racionalizar que este cara nao pode ser normal, ou se ele falava
isso pra todas as mulheres que tentavam comprar gogo’s ou se isso tinha a ver
com alguma religiao maluca, ou se, ou se, ou se…por fim pensei, devia ter
prestado mais atençao, pedido para repetir, gravado, anotado…pois
independentemente de qualquer coisa eu deveria ter me apegado ao conteúdo das
palavras – nunca mais na minha vida devo encontrar um jornaleiro
desconhecido que se de a gentileza de quebrar o calor e a pressa do meu dia, para
desejar de forma poetica coisas boas para minha vida. O presente no entanto, vindo de
fonte tao inesperada, com cenario e ocasiao tao inusitados, que quase me fez perder o conteúdo.
Depois de volta ao meu carro fiquei chateada ao me dar conta do paradoxo que
vivemos nos dias de hoje: um mundo onde ignorar as pessoas a volta ou ate mesmo
ser grosseiro com elas, é recebido com mais naturalidade que alguem q se de ao
trabalho em pronunciar palavras bonitas gratuitamente para outra pessoa –
principalmente qdo esta pessoa nada tem a ganhar com isso, já que os
gogo’s…estes continuam em falta!
Colcha de retalhos em reflexões sobre maternidade, trabalho, vida acadêmica e social!
Em tempo...
Me parece que a maior crise da atualidade é a escassez de tempo! O tempo está minguando... Mas onde foi parar afinal? Está escondido no trânsito? Na má organização pessoal? Ou disfarçando a preguiça? Seja como for, eu também sofro deste mal - agravado pelos multiplos papéis que desempenho - tenho visto os anos passarem sem que o desejado 'tempo' fique mais disponível! Este blog é um desafio pessoal, pretendo imprimi-lo para compartilhar com minha filha qdo esta crescer - espero q ela tenha mais habilidade que eu para gerenciar sua vida profissional, academica e as demandas dos meus netinhos :D
