Dificil escrever este post sem chorar, por outro lado é uma necessidade quase terapeutica escreve-lo. Era inicio de 2001 e eu havia me mudando recentemente da casa da minha mae para o meu apartamento. Pensava seriamente em terminar um namoro que ia mal, mas tb pensava q me sentiria muito mal sozinha naquele apartamento…nao queria voltar pra casa da minha mae tb. Decidi entao comprar um cachorrinho, pesquisei as raças que viviam bem em apartamentos e aceitavam bem ficar algumas horas sozinhas, etc…decidi q queria um yorkshire. Como os preços eram exorbitantes, depois de muito garimpar eu consegui um ultimo filhote de uma ninhada, vindo do litoral.
O criador ia viajar logo e me trouxe o filhote no dia seguinte – dentro do bolso da jaqueta, por uma pechincha…metade do preço normal. Pensei obviamente q poderia estar sendo enganada mas ao ver aquela bolinha de pelos pretinha, me apaixonei e nao ligava mais a minima se ele era um york ou um vira-latas. Levei a bolinha ao veterinario no dia seguinte para tomar as vacinas e descobri q ele nao tinha nem um mes ainda, q o criador havia sido um irresponsavel por desmamar o bichinho com tao pao pouco tempo…ele nao tinha um unico dentinho na boca.
Bem, comecei aí a aprender um pouco sobre cachorrinhos. Comprei uma raçao de desmame, e aos poucos ele foi crescendo e ficando mais fortinho…e mais sem-vergonha tb. Nao preciso dizer q dispensei o namorado-mala menos de 1 mes depois q o cachorrinho estava em casa
Mas comecei a ter dor de cabeça no meu apartamento tb pouco depois pois com alguns meses o peludinho começou a marcar territorio dentro do pqno apartamento. Ele fez xixi em todos os cantinhos possiveis, alem de se esfregar em todas as almofadas disponiveis. Lembro q fiquei durante 2 meses testando produtos e tecnicas, ate o dia q cheguei em casa e ele estava lá…havia rasgado meu sofá num dos lugares onde eu tinha tentando um produto novo, nao havia uma unica almofada seca, e até mesmo o meu travesseiro estava molhado. Bem, na semana seguinte ele estava no veterinario para ser castrado. Ao contrario do q muita gente pensa, o cachorrinho nao fica sem ‘pipi’ por causa disso…sao as bolinhas q sao retiradas e por conta da baixa produçao de hormonios, ele tende a cessar alguns comportamentos (obsessivos) como os q estavam me incomodando. Obviamente isso deve ser feito até uns 6, 7 meses, caso contrario o cachorro pode ter criado habitos dificeis de se modificar mesmo com a castraçao. No nosso caso, resolveu, ja podia andar com ele nas ruas e ao chegar em casa já encontrava quase tudo seco.
Ele sempre foi muito brincalhão, esperto, aprendeu varios truques, adorava passear e se sentia mais valente q seu tamanho recomendava. Curiosamente ele tb tinha uma implicancia com vozes mais altas, ou com pessoas estabandas rss…foi assim com a minha empregada durante muito tempo – eu sabia q ela amava animais, e o tempo q eu estava fora ele ficava razoavelmente bem com ela, mas nao permitia q ela entrasse no meu quarto e ficava tentando morde-la sempre q eu estava por lá, ela nao podia se aproximar para falar comigo q ele avançava nela. Eu li muito sobre cachorros mas nao consegui aplicar muitos dos meus conhecimentos no comportamento dele, na verdade eu achava até um pouco engraçado.
Até o dia em q me vi gravida e o pai da minha pacotinha se acomodando em minha casa, o caos começou…o peludo nao suportava a presença dele, já havia mordido meu ex namorado antes mas o pai dela ele mordeu varias vezes. Cada passo q ele dava em casa, o peludo o cercava com os dentes de fora…eu tenho consciencia de q eu nao tive habilidade necessaria de enquadra-lo na nova hierarquia da matilha, como os cachorros se veem vivendo entre humanos. Tantas mudanças já ocorriam na minha vida q eu tinha q escolher minhas batalhas, pra algumas eu tinha soluçoes…pra outras nao. Muitas brigas e algumas mordidas depois, eu conversei com minha mae e pedi q ela ficasse com ele por um tempo. Ele gostava de lá, e já estava acostumado com o local pq ia sempre comigo lá, inclusive ficava lá qdo eu viajava. E lá na casa dela tb havia outra cachorrinha, uma poodle q compramos qdo eu ainda morava lá, gorda e peludona.
Apesar de saber q isso diminuiria minha brigas e deixaria minha gravidez seguir curso um pouco mais suave, eu sofri muito qdo o levei pra lá, foi como se tivesse q lidar com a primeira morte dele. A noite eu sentia falta de ar, e cultivei uma magoa enorme sem dúvida – por ter tido q escolher entre viver em relativa paz com o pai da minha pacota e com o cachorrinho q eu amava e já fazia parte da minha vida. Com muita culpa e uma dor no peito q nao passava eu fui melhorando com a terapia e com os tratamentos homeopaticos. Alias, na terapia já haviamos discutido algumas vezes sobre meu apego extremo ao peludinho, era bem claro q ele significa a substituiçao do filho q eu queria tanto…Mas a verdade é q eu queria tudo…o filho, a familia e o cachorro…e a realidade foi uma fase cheia de concessões, de escolhas feitas sem muita certeza.
O q me consolava é q meu companheirinho continuava perto, e sendo muito amado e bem cuidado. Mas qdo eu ia a casa da minha mae, evitava dar muita atençao a ele, queria q ele fizesse logo a transferencia para a minha mae, q nao esperasse q eu fosse leva-lo de volta comigo pra casa. Foi muito dolorido e foi aí q aprendi q amor é amor…amava pessoas e amava meu cachorro, e o sofrimento de abrir mao dele foi como o sofrimento de me afastar de uma pessoa q amava. Muitas pessoas odeiam esta comparaçao, mas a verdade é q o meu coraçao doia como se tivesse perdido alguem. Superei na base da correria, pois logo a minha filha nasceu e eu nao tinha mais tempo para nada.
O peludinho ia bem na casa da minha mae, até q quase 3 anos depois descobrimos q estava com diabetes. Ficou totalmente cego, perdeu seus pelos bonitos e brilhantes, emagreceu a ponto de ficar só pele e osso…vivia com as orelhinhas infeccionadas e tomava insulina todos os dias. Lembro da ultima vez q o levei ao veterinario – qdo decidi q seria a ultima mesmo. Ele sofria muito, tinha q imobilizar e colocar focinheira para qq coisa, desde fazer o exame de sangue até cortar as unhas. Eu acabei conseguindo cortar a unha dele em casa e resolvemos q nao iriamos mais submete-lo ao sofrimento dos exames…mesmo q isso significasse viver menos. Ele continuava comendo muito e latindo bastante, andava lentamente pq nao enxergava nada mas ainda ouvia bem e mantinha algum olfato – ele fazia xixi pela casa da minha mae toda…e nos preocupavamos em como fazer com ele em dias de festas já q era muito arriscado q as pessoas pissasem nele.
Ontem cheguei de uma semana de ferias maravilhosa com a minha pqna e a biza, estavamos no sol de Goiania e voltamos pro inverno de SP. Ao chegar na casa da minha mae com as malas, vejo apenas a poodle gorducha…logo dei falta do pqno. Minha mae apenas olhou, nem precisou responder…é a segunda vez q me sinto de luto pelo mesmo cachorrinho. A minha filha me abraçou e disse ‘mamae vou cantar uma musica pra vc parar de chorar’…
Qdo estudamos a domesticaçao dos animais, entendemos q os cachorros tem diferentes papeis junto aos seres humanos. Existem animais q foram domesticados para caçar, outros para guardar, outros para esquentar a cama (!!) e outros para companhia. O meu ex-peludinho cumpriu bem a funçao dele. Meu companheirinho durante 6 anos e meio, alegrando a casa da minha mae por mais quase 4 anos. Diz o kardecismo q a distancia entre o ser humano q habita este planetinha dos espiritos evoluidos e puros é praticamente a mesma distancia entre os animais e os seres humanos como conhecemos. Dizem tb q dificilmente reconheceriamos um animal qdo este chegasse a sua vida humana, como seria dificil reconhecer o adulto pelo feto q ele foi. Nao sei entao se terei a sorte de cruzar com o peludinho querido nas ‘vidas’ afora…mas agradeço muito a Deus pela oportunidade de conviver com ele e pelo amor incondicional q ele ofereceu nos anos em q conviveu conosco, ele sem duvida cumpriu com louvor seu pqno papel neste planetinha – o de fazer companhia e amar.