Muito tempo sem escrever…talvez pq tenho tido que escrever coisas pro trabalho, escrever coisas pro doutorado...qdo tenho tempo livro, fico com meus pensamentos longe do computador. As vezes repasso eles em palavras no intuito de guardar algumas frases que se transformariam em texto...mas aí o tempo passa e os pensamentos registrados mentalmente dao lugar a novos pensamentos e assim sigo sem tempo e sem registros.
Acho que é temporário – sempre acho que é temporário...mas parece q de temporário em temporário, a minha correria tornou-se permanente. As vezes me pergunto pq fico colocando mais coisas no meu prato se mal dou conta do que tenho pra comer. A verdade é q tenho muita energia...e nos momentos de menos esforço acabo achando que posso dar conta do mundo...mas sou humana, falível e peqna...e não, não posso dar conta do mundo, nem do meu mundo.
Ontem eu estava andando pela baia de San Diego, após um evento mundial da área onde atuo. Eram 16h00 e o sol estava maravilhoso. Foi o primeiro dia desde que cheguei que sai do meu quarto ou do centro de convenções e fui conferir de perto o que eu via da janela do meu quarto. Um lugar lindo, tranquilo, um lugar que inspira meditação, reflexão e paz. Claro que me peguei pensando naquele momento de solidão maravilhosa:
1) Eu preciso destes momentos. Por um breve instante eu cuidava só de mim, eu me preocupada só comigo, e eu tinha que carregar somente eu mesma. Foi uma hora de caminhada, onde a única coisa que importava era eu, meus pensamentos e as fotos q eu tirava, enquanto admirava o sol se por.
2) Eu já me senti mais culpada que hoje. Na verdade a medida que minha filha cresce e torna-se mais independente, eu me sinto menos sobrecarregada e menos culpada por tudo. Pude me dar o luxo de tomar uma taça de vinho branco enquanto almoçava escutando no meu celular ‘the piano guys’. Não tinha que falar com ninguém, não tinha q responder nada, nem preencher silencio algum, ‘fazer sala’, não tinha nada...apenas comer, beber e olhar o por de sol.
3) Sinto saudade da minha família. Paradoxalmente, ao mesmo tempo, sinto uma liberdade tão grande...uma sensação tão boa (que chega a dar certa culpa). O fato é que enquanto eu degustava minha solidão, me sentindo leve naquele momento único de não ter que cuidar de nada mais, eu pensava em mim mesma em primeiro lugar, como raramente faço...mas também em cada uma das pessoas que amo enquanto estava ali. Imaginei que minha filha ia querer correr naquele lugar lindo, meu marido ia amar o salmao, que minha mae ia gostar do vinho branco, etc...Eh bom no entanto saber que logo, estou de volta ao meu caos tao familiar
4) Aquela paz é cara. Não é pq se esta nos estados unidos que se esta em paz. Na verdade aquele momento de paz no paraíso, onde a vista é perfeita, o lugar é perfeito, as pessoas são educadas e tudo funciona, custa muito caro. Nem todos os lugares são assim, e aquele local era uma marina cheia de hotéis, um local pra se usufruir de momentos...e depois, voltar a vida normal. Por isso, é preciso encontrar a paz no meio da vida real, que não esta nos resorts nem nos hotéis cinco estrelas. A paz esta em saber lidar com os problemas e não se deixar abater excessivamente por eles.
Parece que agora, quase aos 45 anos, eu estou ‘começando’ a entender este negócio de paz, flexibilidade, silencio interior...é injusto. Passamos décadas brigando com o mundo para aprender que não dá pra ganhar a briga – e não da pra ser feliz brigando. Dai começamos a enxergar onde estamos nos machucando desnecessariamente...mas o habito de tantas décadas é difícil de se quebrar...o fato de se estar consciente não basta para a mudança. Finalmente olho a volta e enxergo que as coisas não são como eu quero, e não serão. Enxergo que as pessoas enxergam de forma diferente, de momentos de vida diferentes, de perspectivas diferentes. Enxergo que cobro as pessoas mais próximas de terem o mesmo nível de entendimento que eu tenho, mesmo que não tenham vivido as mesmas coisas e experiencias que eu, e isso é impossível.
Daí olho pra minha filha e penso...ja nasceu com 35 anos de bônus, com a sabedoria que a mae dela só foi alcançar ou vislumbrar a possibilidade de alcançar agora ‘quase velha’!!!!!!!!!
Falando em velhice, em idade e em expectativas. Imaginando que eu ainda tenha mais 45 anos de vida...seria viver o tanto que vivi até hoje na minha vida novamente. É muita coisa!
Sou grata por ter a chance de fazer algo diferente e de mudar daqui para as próximas décadas. Hoje eu tenho desejos que são muito menos materiais (e acho q isso só é possível qdo a gente já conquistou o mínimo de material) e muito mais difíceis de se conseguir. Desejo coisas que dependem da minha paz interior, minha capacidade de me moldar como a agua nos problemas. Desejo um trabalho que possa fazer a diferença socialmente, desejo retribuir a quantidade de coisas maravilhosas que deus me permitiu ter acesso, para a sociedade onde atuo. Desejo dividir o conhecimento que acumulei e compensar a empresa onde trabalho pelas tantas oportunidades maravilhosas que tenho em minha vida e tive até hoje. Desejo ser uma mae realmente presente, amiga, que oriente e de espaço, que seja um guia e um colo, que seja a o orgulho e que demonstre toda sua admiração e orgulho todos os dias sem retriçoes. Quero deixar neste mundo um ser humano maravilhoso com tudo que tenho de melhor para somar o que ela traz de melhor.
Quero deixar mensagens que façam a diferença nos grupos onde circulo – conseguir ajudar as pessoas a terem visões mais inclusivas, menos egoístas, menos preconceituosas – mas tenho que conseguir fazer isso com a doçura que minha filha traz nas suas interações e não com a agressividade que trago nas minhas. E asissti-la interagir com a adversidade e as diferenças, já me ensinou tanto nesta vida...que ela nem imagina.
Eu vivi de forma intensa e apaixonada a minha juventude, com tudo que isso possa significar. Me joguei no mundo, me joguei nas relações, me joguei nas descobertas, corri riscos, me machuquei, me descobri forte e me construiu independente.
Hoje eu sou mais tranquila e planejada, não tenho ânsia de experimentar mais nada - embora sinta falta das emoções mais profundas, de um tipo de amor que se perdeu ou ficou pra tras...neste momento busco apenas a paz, a confiança e a tranquilidade. Tenho medos relacionados ao futuro e todos eles pelo menos de não controlar as coisas...sera q meu corpo vai funcionar sozinho? Sera q serei tao autônoma? Sera que minha mente sera capaz de lembrar e decidir? Sera que terei que apenas confiar nos outros...depender para uma pessoa que é tao independente, seria uma dor enorme...como me preparar para não sofrer com o que não posso controlar?
Não há uma resposta mas há alguns caminhos e entre eles, encontro a meditação, o pensamento budista, mindfulness, comer direito, me exercitar, levar cada preocupação para seu estado minimalista do ‘e daí?’...no final, tudo esta como deveria ser, mesmo que este estado não seja o q eu gostaria q fosse. Pertencer do jeito que é, controlar apenas o que esta dentro de mim, aceitar, respirar corretamente e manter o pensamento calmo e sereno. Este é o grande desafio que tenho para as próximas décadas. Não é criar uma filha maravilhosa...pq ela já é maravilhosa e lembrara mais dos meus exemplos que minhas palavras. Não é terminar o doutorado que será uma contribuição efêmera para a sociedade e uma jornada de aprendizagem que também ficara obsoleta para mim. Não é conquistar de novo o emprego dos meus sonhos, nem me aposentar com a casa na praia e a casa de campo. Ë conviver bem com as pessoas a minha volta, mesmo diante das diferenças. Eh enxergar que as pessoas acreditam (tanto qto eu nas minhas verdades), que estão fazendo a coisa certa, agindo da forma correta, da melhor maneira possível – e isso reflete sua compreensão mais sofisticada ou menos sofisticada da vida em sociedade. Cada um tem seu tempo...eu demorei 45 anos e ainda não consegui passar da teoria da ‘compreensao’ das coisas para a pratica.
Enfim, a reflexão é boa...colocar as palavras de forma tangível é ótima. Mas vale ressaltar que tenho consciência de que a solidão q amo neste momento é maravilhosa apenas pq não é compulsória, ela é opcional, sempre posso sair dela e voltar pra minha vida cheia de pessoas, problemas e – diversos tipos de amor.