Muita coisa mudando neste novo septênio da minha vida…não necessariamente planejado, mas vem sendo uma consequência natural de uma vontade desesperada de mudar, de romper, de respirar…
Eu venho de uma vida que é típica para minha geração, muitos anos de estudo, boa formação acadêmica, família, filhos pra criar, carreira executiva estabelecida, bons recursos financeiros, patrimônio, viagens e conforto…e pra manter tudo isso, MUITO ESTRESSE.
Ainda que eu não possa nem de longe me colocar na pele de quem trabalha alucinadamente em empresas convencionais – já que tenho uma situação vantajosa pela flexibilidade que a empresa oferece e a credibilidade que conquistei – a vida corporativa numa multinacional sempre será muito desafiadora, principalmente se vc desejar manter-se na ponta (alta performance) e sobressair-se, não bastasse a sobrevivência!
Faz alguns meses que tenho repensado o quanto de tempo desejo investir para manter minha alta performance x tempo pra usar comigo mesma e logo, ao descer do pódio, aumentar um pouco mais de qualidade de vida e do tempo que dedico para outras coisas, que me trazem muita satisfação pessoal, como ler, estudar, fazer trabalho voluntário, e principalmente, acompanhar de perto o crescimento da minha filha.
Por quase 12 anos eu tive o cobiçado titulo de alta performance nas avaliações da empresa, todos os anos trabalhando atividades inovadoras para garantir minhas metas e minha reputação – até meses atrás, me deparar com o questionamento: mas…se tenho tudo isso, por que não estou totalmente feliz? Por alguma razão, depois de uma década de super eficiência, eu não sentia mais a mesma motivação por aquela competição…é como se, com o passar dos anos, depois de ganhar tantas medalhas de ouro, eu precisasse de outro tipo de prêmio...
Estas questões vieram roendo alicerces da minha paixão…me encontrei mais vezes pensando em como seria a vida fora do mundo corporativo que me imaginando mais uma vez promovida. Fui diminuindo meu ritmo enquanto realinhava meu foco – ou melhor, enquanto realinho meu foco.
Não que eu fique feliz com a contrapartida - ao baixar meu padrão ‘extra’ de excelência, eu sabia que abriria guarda para para meus concorrentes e por conta disso, na avaliação comparativa, receberia um bônus anual menos polpudo. E foi o que houve – conforme eu previa, na avaliação deste ano (que a bem da verdade, pode ser considerada uma avaliação do quadrimestre, pois o que se faz nos primeiros 8 meses do ano fiscal, ninguém nem lembra próximo ao período de avaliação rsrsrs).
Eu já nem tinha contado na minha planilha financeira, com o mesmo montante de dinheiro do ano anterior – obviamente que não fiquei feliz, mas achei JUSTO. Sim, não dá pra ter tudo…eu abri mão de fazer o ‘extra’ e fiquei só com o ‘trabalho bem feito’ – e recebi proporcionalmente…de imediato me vi diante das escolhas que fiz: eu comprei o tempo que deixei de fazer o trabalho extra, e a conta foi paga no bônus.
NAO ME ARREPENDI. Me vejo fazendo ajustes todos os dias, buscando equilíbrio, buscando alternativas…bem da verdade é que os desafios da vida corporativa por algum motivo não me apaixonam mais com tanta facilidade como no passado. Eu preciso de novos ares…estes novos ares podem até serem novas atividades dentro deste mundo, mas novos desafios. E os novos desafios eventualmente estão em outros lugares…em outras empresas? em outros segmentos? em outras funções? em outras atividades? Ainda não sei…...tenho me preparado para muitas coisas enquanto peço ao astral que me ajude a encontrar o caminho onde meus olhos voltem a brilhar. Eh interessante ao mesmo tempo estar me deparando com tantas pessoas na minha faixa de idade vivendo questionamentos parecidos.
A tendência natural diz que nossa geração ainda vai viver muito – logo, tendemos a ter uma vida profissional longa e…talvez em novas carreiras que sejam mais realizadoras do que ‘fazedoras de dinheiro’ propriamente ditas.
Mas a coisa não termina ai…junto com todos estes questionamentos profissionais, me vejo exasperada por romper outras barreiras dentro desta pseudo-adolescência de 43 anos: quero uma vida mais sustentável, não posso mais aguentar assistir o q temos feito com o mundo, o planeta, o país…não posso mais comer um animal morto sem pensar de onde veio minha alimentação, não posso mais comprar um sapato sem pensar de onde veio aquele couro, não consigo assistir o desperdício embutido no modus-operandi que vivemos, fazer de conta que não entendo a cadeia de processos para criar os cosméticos que uso, o sofrimento da galinha que botou o ovo que comemos ou fazer de conta que o lixo que joguei no cesto ira desaparecer do planeta apenas pq não vou pensar pra onde ele vai depois. Quando você desperta para SUA RESPONSABILIDADE em mudar o mundo a sua volta, seu impacto nele, não dá mais pra viver como se tudo ao nosso redor estivesse lá exclusivamente para nos servir…PRECISAMOS ACORDAR!
Estas questões todas vem me trazendo uma necessidade enorme de mudanças, no que como, no que visto, no que compro, no que falo, no que penso…nos exemplos que dou pra minha filha – sim, pra minha sorte sou uma pessoalmente privilegiada e EU POSSO me dar ao luxo de ter muitas coisas, posso ter tudo que me interessa, mas EU NAO QUERO mais ter tudo. Sim, é muito bom estar numa posição de escolha…QUERER levar uma vida mais simples e não ser coagido pela vida a uma vida mais simples…melhor ainda é ter um marido que compartilha da minha vontade de ter uma vida assim. Mudar em família pode ser muito difícil se um acorda e o outro prefere continuar fazendo de conta que tudo bem viver assim…
Me vejo como um ser humano em transição…hoje, uma executiva num momento de revisão…preciso de um desafio que me faça acreditar num impacto maior, que justifique meu empenho apaixonado numa causa que eu valorize, acredite e ame. Ao mesmo tempo, uma mulher que busca uma vida de mais silencio, meditação, natureza, respeito aos animais, ao planeta…que tem buscado novas formas de alimentação para corpo e para a alma, que entende cuidar do corpo como algo além das aparências, que quer se ver mais feliz e realizada com seu papel no mundo no futuro. Já tive muitas certezas, mas hoje tenho mais perguntas que respostas, voltando a ser aluna, de um novo mundo de possibilidades.
Sei muito do que não quero mais, já sei muito do que já não me encanta tanto…me sinto pendurada num fio, como quem espera um novo bonde de desafios passar, para que eu possa me jogar e seguir carona com ele. Estou só esperando para ver o que eu serei quando crescer…