Em tempo...

Me parece que a maior crise da atualidade é a escassez de tempo! O tempo está minguando... Mas onde foi parar afinal? Está escondido no trânsito? Na má organização pessoal? Ou disfarçando a preguiça? Seja como for, eu também sofro deste mal - agravado pelos multiplos papéis que desempenho - tenho visto os anos passarem sem que o desejado 'tempo' fique mais disponível! Este blog é um desafio pessoal, pretendo imprimi-lo para compartilhar com minha filha qdo esta crescer - espero q ela tenha mais habilidade que eu para gerenciar sua vida profissional, academica e as demandas dos meus netinhos :D


sábado, 10 de outubro de 2015

A mãe que eu gostaria de ser

paz interior As vezes acho que seria preciso beber, ou usar alguma droga, estar anestesiada – de alguma forma, seria preciso que uma parte do meu cerébro, que é muito dominante, estivesse desligada - para que entao eu pudesser ser a pessoa que eu gostaria de ser.

A pessoa que eu gostaria de ser é leve e despreocupada, ela se preocupa mais com o hoje que com o amanha – nao se importa se as coisas nao saem como ela esperava, até pq ela nao tem uma expectativa muito clara do que espera. Raramente grita, ou tem palpitaçao. Esta pessoa aceita as interferencias, é flexivel e segue o curso das ondas, nao tenta segura-las. É uma mãe tranquila que acredita que infancia só se tem uma vez e por isso, ‘tá tudo bem’…esta mãe se preocupa menos com o requeijao no cabelo, com as caries do futuro, com a liçao de casa bem feita e mais com a risada do filho, o sabor do doce ou a brincadeira. Ela é apenas amorosa e sabe demonstrar seu amor apenas demonstrando seu amor, sem ter que dar as regras o status de amor. Em toda minha vida conheci pouca gente deste tipo – para alguns elas sao tidas como irresponsáveis, para outros como ‘acomodadas’ e para mim, sao pura inspiraçao...o inatingível. 

Conheço umas tres pessoas assim, rainhas da paciência e do ‘tá tudo bem’…nenhuma delas é um modelo de referencia em eficiencia, nem em performance…nao necessariamente consideradas pela sociedade como bem sucedidas, em alguns casos alias, tem problemas financeiros e desafios materiais…mas me parecem mais em paz apesar das adversidades…parecem que vivem mais com mais paz em seus coraçoes que eu na minha luta ferrenha contra mim mesma.

Eu nao tenho dúvidas que elas tem outros desafios, cada qual de nós tem q conviver com as dores e as delicias de sermos quem somos nao é mesmo?…Eu nao tenho uma serie de problemas que elas tem que enfrentar certamente…mas tenho q viver diariamente tentando desligar o botao do ‘faça a coisa certa’ na minha vida, vivendo dias em que eu mesma nao suporto minha propria chatisse. Uma luta que perco diariamente, a todos os instantes…uma luta injusta e desgastante.

Há anos faço terapia e este tema já foi pauta de nossas conversas varias vezes…em muitos momentos me resignei com a dificuldade de me mudar, de relaxar – sou uma pessoa cheia de eneriga, passional, ativa e exigente – tenho um mundo construido com esforço ao meu redor, e me esforço para mante-lo. Para viver minha paz no entanto, vivo tentando controlar as coisas que estao fora de ordem (e nao digo apenas o mundo material a minha volta), para entao dar-me ao luxo de usufrui-lo. Ocorre que esta busca é ingloria, como nunca consigo ter tudo sob controle para poder relaxar, logo, nunca relaxo…

Sim, muitas vezes já me perguntei…E SE? E se eu deixar de fazer as coisas ou brigar para que sejam feitas? E se um dia desse uma louca na mae, esposa, e eu parasse de organizar, lembrar e fazer? Nao mandasse a lista do mercado, nao chamasse no horario e nao lembrasse q a hora esta passando, nao revisasse o material da escola, nao definisse o cardapio do almoço, nao mandasse lavar as cortinas, nao comprasse o presente da festinha de aniversario, nao levasse o cachorro pra tosa, nao tirasse a sobrancelha, nao fizesse a unha, nao tirasse a louça da mesa, deixasse o gato derrubar a o copo dagua na mesa, nao pedisse pra trocar a lampada, nao programasse as ferias, nao, nao, nao…se a unica coisa q eu realmente fizesse fosse continuar trabalhando já que isso é minha obrigaçao? E se eu me transformasse numa riponga ‘deixa a vida me levar’?

Será que eu seria uma pessoa mais feliz? Sera q conseguiria sentar no sofa pra ver TV sem tirar a louça da mesa ou o monte de papel rasgado no chao? Sera que minha filha me amaria mais ou se lembraria com mais alegria de uma mae que nao fica brava para ela fazer as obrigaçoes?

Eu nao sei…eu sinto como se estaria deixando de fazer o que eu preciso fazer para uma criança – que é condiciona-la para viver no mundo que vivemos, para viver, sobreviver e eventualmente, sair-se bem. Mas o que é sair-se bem??? Eu já nao sei mais. Eu achava que sair-se bem era tudo que tenho, mas em muitos dias eu me sinto tao cansada e tao frustrada de ter que ser a chata para que o mundo a minha volta rode, que penso se é isso mesmo…

Hoje estou particularmente chateada, o meu desejo é parar de ter vontade de fazer as coisas que ‘acho’ q preciso fazer e deixar tudo seguir o curso das ondas…Nao quer passar o fio dental? Tenha caries… Nao quer fazer a liçao? Seja uma aluna mediana…Nao quero arrumar o quarto? Viva na bagunça…Nao quer dormir cedo? Fiquei acordada e durma menos que o necessario para crescer saudavel…enfim, nao tenho coragem de largar estas coisas de lado, pois acho q uma criança nao tem condiçoes de discernir sobre o que é bom pra ela e o que nao é…mas é de um desgaste monstruoso ter que repetir centenas de vezes as mesmas coisas para os filhos…Eu me sinto uma bruxa chata, e meu coraçao vive o dilema da mae moderna – como deixar uma marca feliz na infancia do seu filho qdo metade do tempo vc esta brigando pra ele fazer as coisas que vc ACHA q ele tem q fazer…

Queria que minha filha soubesse que eu a amo acima de tudo neste mundo, e que eu me importo tanto com ela…e q eu sinto muito por ficar brava tantas vezes, por perder minha paciencia ou por esperar que ela seja mais madura que uma criança de 8 anos. Eu queria também que existisse uma forma simples de transformar esta pessoa que eu sou, naquela pessoa q eu queria ser, mas que esta nova pessoa nao trouxesse nenhum ônus pra vida da minha pqna. Se eu morresse hoje, sera que ela entenderia que a briga para escovar os dentes seria pelas caries que ela pode ter daqui 10 anos? Ou teria apenas deixado na memoria uma lembrança da mae chata falando na orelha dela?

Nao há certamente só coisas boas em ser leve e despreocupada ou em ser ativa e comprometida…ambos tem pros e contras. Mas faz 42 anos que sou assim…talvez este seja hoje minha grande meta, meu grande aprendizado a ser adquirido…como exercitar a paciencia, lidar com o E SE nao fizer sem me importar tanto e mais ainda, entender que nao será falta de amor da minha parte qdo (e se) eu finalmente chegar a ser esta pessoa desprendida, que nao se importa com a rotina, nem como as obrigaçoes.

E daí será esta entao, minha paz interior. Amem.